sobre Alex Rocca

Na travessia pela origem, minha imaginação convoca à imagem de um navio onde mulheres negras, com cabelos trançados, entrelaçam-se aos fios do tempo.

Entre gestos e lembranças, reencontro também os saberes de minha avó cabocla, cuja cunhagem em gestos manuais e experimentações com fibras, argila, vidro e metal sacraliza a herança que sempre me guiou.

Nesse território simbólico, a cultura Banto, com sua força oral, suas relações coletivas e sua espiritualidade integrada à vida, transmite saberes e modos de existir que cruzaram oceanos e se fixaram no Brasil. A riqueza de formas e expressões africanas: máscaras, esculturas, tecidos rituais, festas sagradas, também se manifesta em minha criação, assim como a cultura Iorubá, em que o culto aos Orixás, a filosofia de Ifá e a arte ritual revelam uma visão de mundo onde o humano, a natureza e o sagrado se convocam. Esses fundamentos são pilares estéticos e simbólicos da minha prática.

As Joias Crioulas são uma referência importante em meu trabalho. Originárias do período colonial, eram adornos usados por mulheres negras e mestiças, muitas delas libertas, como forma de afirmar presença, status e identidade em meio à escravidão. Hoje, assumem o papel de símbolo de resistência e reconstrução de pertencimento. Elas me interessam como ponto de partida para pensar adornos, corpo e memória — gestos que atravessam o tempo e a diáspora. Em minhas criações, busco atualizar essa relação entre beleza, ancestralidade e afirmação, compreendendo as Joias Crioulas como uma linguagem viva e coletiva.

Meu trabalho parte de uma nova leitura de pertencimento. Cada gesto, como costurar, amarrar, furar, moldar, fundir, polir e torcer, participa de algo maior: movimentos que resgatam memória e matéria, da fibra ao metal, da argila ao vidro. Quando falo de povos ancestrais, de África e de culturas que atravessam o tempo, falo também de mim, mas dentro de um coletivo. Me incluo e me reconheço nesse conjunto, me vejo refletido em outras pessoas e histórias. Nesse percurso, emerge a noção de legado, não apenas como herança recebida após a morte, mas como aquilo que nos constitui desde o nascer. Bençãos, promessas, privilégios e memórias ancestrais.

Existe um desejo de presentificar, não apagar ou silenciar. Nas obras há um peso físico que dialoga com o peso simbólico da história. São densas, táteis, materiais. Têm um tamanho que ocupa um território. As cores, intensas, provocam um sentir de quem vê. O trabalho não passa despercebido. Tem corpo, matéria e presença.

As pessoas trazidas ao Brasil não chegaram ao acaso, mas foram arrancadas de seus territórios também por seus saberes. Eram tecelões que trabalhavam fibras, ceramistas que moldavam a argila, ferreiros que transformavam metais em ferramentas e adornos, escultores que talhavam madeira e pedra, artesãos que criavam contas, tecidos e objetos rituais. Esses ofícios chegaram ao Brasil e se enraizaram neste território. Ao empregar materiais como algodão, sisal, rami, madeira, cobre, cerâmica e vidro, reconheço neles a continuidade desse legado da diáspora africana. Ao transformar esses elementos em linguagem, reafirmo que tais tradições permanecem vivas, como raízes de memória, identidade e ancestralidade.

Nesse sentido, meu trabalho afirma que a diáspora não é apenas um deslocamento histórico, mas um território de criação, onde saberes, memórias e símbolos seguem em transformação. Cada obra, ao reunir matéria e gesto, atualiza essas presenças no presente e projeta novas formas de pertencimento.

Exposições Individuais

2025, Galeria Alhures, exposição LEGADO. Galeria Ponto de Fuga. Curitiba - PR.

2025, SP-ARTE, exposição HERANÇA. Pavilhão da Bienal. São Paulo - SP.

2024, SP-ARTE, exposição Altar. Pavilhão da Bienal. São Paulo - SP.

2023, Exposição Ôda 2023, lançamento Série Herança. Museu Oscar Niemeyer. Curitiba - PR. 

2023, SP-ARTE, exposição Manto. Pavilhão da Bienal. São Paulo - SP. 

2022, SP-ARTE, exposição Pele. Pavilhão da Bienal. São Paulo - SP. 

2021, SP-ARTE, exposição Vazios. Online. São Paulo - SP. 

Exposições Coletivas

2024, Exposição “tecendo (HORIZONTES)”. Galeria Tato. São Paulo - SP.

2023, Exposição “The Collective”. THE HOUSE OF ARTS. Miami - FL.

2022, Exposição “Chormatica”. THE HOUSE OF ARTS. Miami - FL.

2022, ArPA+MADE, lançamento Coleção Líquens. Estádio Pacaembú. São Paulo - SP.

2021, Exposição ‘Asas nos pés’, Galeria Janaína Torres. São Paulo - SP. 

2021, Exposição ‘Oriente - Ocidente: Histórias do Tecer’. Curadoria Ana Carolina Ralston. Galeria de Arte André. São Paulo - SP.

2021, Exposição ‘Aura em matéria’. Galeria Casa Aura. São Paulo - SP.